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mig boiAlguns apontamentos curiosos.
Viajar para saber mais, sempre foi o meu lema. A excursão efetuada à Malásia, Tailândia, Singapura e Vietname, incluindo um maravilhoso cruzeiro pelos mares onde os nossos compatriotas navegaram no século XVI, constituiu, “para este pobre de cristo”, uma experiência inolvidável. Tenho agora o dever de partilhar, embora toscamente, algumas curiosidades.


A região visitada sofre basicamente a influência de malaios, chineses e indianos. As respetivas culturas manifestam-se exuberantemente nos costumes, maneira de vestir, gastronomia e religiões professadas. Há templos hindus, budistas, taoistas, mesquitas e residualmente, igrejas católicas e protestantes.
Etnobotânico quanto baste, e “gourmet” como me orgulho de ser, fui, ao longo de uma vintena de dias, anotando curiosidades “à vol d’oiseau”, que agora me apresto a dar conta aos meus estimados leitores.


Batu Caves (Malásia)
Trata-se de um dos santuários mais importantes da religião hinduísta e é dedicado ao deus Murugan. Insere-se numa espaçosa gruta a qual se chega, subindo uma fatigante escadaria. Ora, paralelamente a essa gruta mística há uma caverna mais extensa a qual tem sido objeto de investigações científicas nos campos da geologia e da biologia. Regista-se, por curiosidade e para deleite dos botânicos, algumas das plantas mencionadas no placard identificativo: Impatiens ridleyi (Balsaminaceae) (endémica local), Monophyllaca hirticalya (endémica na Malásia), Microchirita caliginosa, Tectaria devexa (Tectariaceae) (feto), Turnera ulmifolia, Hippobroma longiflora, Duplipetala pentanthera, Alocasia longiloba (Araceae).


Comidas em Kuala Lumpur
No primeiro dia, jantámos numa buliçosa zona de petiscos. Foi no Cu Cha Restaurant onde escolhi um prato denominado Wan Tan Mee (esparguete de farinha de arroz com couve chinesa e molho de soja). Era bom? O “jet leg” não permitiu uma clara apreciação! No segundo dia, almoçámos numa tasca chinesa. Foi muito barato mas tivemos que pagar à parte os guardanapos de papel. Aqui não se usam toalhas de pano, de plástico ou tampouco de papel. O segundo jantar foi um pouco complicado. Regressávamos da visita às célebres torres Petronas e começou a chover. O pessoal era exigente: aqui não porque há falta de higiene, ali também não porque o aspeto não agrada. Acabámos por assentar num centro comercial super barulhento e comer no restaurante “La Boca” de especialidades argentinas, mexicanas, italianas …, propriedade de um italiano: nachos e “pizzas” de batata.


O cogumelo de Sarawak
No nosso quarto do Hotel Metro 360 estava um quadro emoldurando a curiosa fotografia de um cogumelo laranja muito vistoso, tirada no Mulu National Park de Sarawak. Para a próxima vez havemos de visitar Sarawak que é a parte da ilha de Bornéu pertencente à Malásia. O restante território é da Indonésia.


Phuket (Tailândia)


Phuket seria um paraíso se não tivesse um trânsito infernal. Do aeroporto ao Thai Palace Resort, junto à praia de Rawai onde ficámos hospedados, demorámos mais de uma hora. O Thai Palace é um jardim tropical onde predominam as orquídeas e os fetos trepando pelos troncos dos coqueiros e das mangueiras. Houve quem se queixasse dos mosquitos, mas não foi o meu caso. Ao longo da praia de areia branca e vasto arvoredo, os pequenos restaurantes não tinham conta. Numa parte havia o mercado do peixe e do marisco. O cliente escolhia o peixe, que nadava em tinas de água salgada, para a sua refeição e o restaurante em frente confecionava na altura. Na zona antiga da cidade, capital da ilha, tivemos oportunidade de atravessar um extenso mercado de frutas e hortaliças, umas conhecidas e outras totalmente desconhecidas. Calcorreámos depois a feira de petiscos plena de iguarias e de “gourmets”. Para não destrilhar do nosso grupo que somente olhava, nada provei, mas estou arrependido. Em praticamente todas as refeições que tomei em Phuket, privilegiei o magnífico arroz tailandês cozido a vapor, para mim o melhor do mundo.


Designações em 6 idiomas
Num dos “raids” efetuados para visitar outras ilhas, passámos de Phuket para o continente através da ponte Sarasin e logo após fomos almoçar num complexo turístico com várias atrações e muitas árvores de fruto. As respetivas placas identificativas estavam escritas em 6 idiomas: tailandês, inglês, chinês, árabe, coreano e russo. Curiosamente, os alfabetos, as letras e os caracteres dessas línguas eram todos diferentes entre si. Faltaram, quanto a nós, as designações em esperanto (língua internacional por excelência) e as científicas que, como se sabe, no que respeita à biologia, são expressas em latim.


Jardim Botânico de Phuket

Os ingressos tinham um preço relativamente elevado (500 bahts, aproximadamente 15 euros), mas depois percebemos porquê. Este jardim é dotado de muitos arranjos, ornamentos e pormenores que implicam a participação de bastantes funcionários. Tem cerca de trinta zonas específicas de plantas tropicais e exóticas e um jardim de borboletas. Visitámos mais demoradamente a parte das orquidáceas, a feteira, as plantas aquáticas, o palmeiral, as árvores de frutos tropicais, as trepadeiras e a floresta húmida. Destaque para o Jardim Inglês, o Jardim Chinês, o Jardim Japonês, o Jardim do Bali entre outros. Eis algumas espécies anotadas: Nephelium lappaceum - rambutan, Mangifera indica – mangueira (Anacardiaceae), Manilkara Zapota (Sapotaceae), Dimocarpus longan (Sapindaceae), Eugenia javanica - rose apple, Litchi chinensis – litchia (Sapindaceae), Averrhoa carambola – carambola (Oxalidaceae), Juniperus chinensis, Phoenix hancean, Benya mollis (Tiliaceae), Syzygium cumini (Mirtaceae), Artocarpus lacucha (Moraceae).
Infelizmente, a loja do museu não tinha um único livro à venda. Aliás, foi uma pecha que observámos no país – a quase ausência de livrarias e muito menos a existência de livros escritos em línguas ocidentais.


Gardens by the Bay (Singapura)
Singapura é uma cidade moderníssima e muito bem organizada com extensas áreas verdes. Os “Gardens by the Bay” devem ser o último “grito” mundial no que toca à harmonização entre as estruturas edificadas, os atributos da natureza, a ciência e o lazer. Este admirável complexo foi inaugurado em 2012 e a sua conceção foi objeto de um concurso disputado por 170 empresas de 24 países. Haja dinheiro! Ocupa 101 hectares e encontra-se, todos dias, aberto ao público das 5 horas da manhã até às 2 da madrugada. E é gratuito! Só se paga para fruir de atrações especiais e elas são muitas. Não se espere que vá agora descrever em pormenor todas as particularidades do parque. É impossível! Quem quiser saber mais sobre este valiosíssimo património tem que o visitar pessoalmente. Contudo, para “deixar água na boca” aos curiosos, tenho que fazer algumas referências:
- Jardim indiano, uma reflexão sobre a devoção;
- Jardim chinês, uma reflexão sobre a literatura;
- Jardim malaio, uma reflexão sobre a comunidade;
- Jardim colonial, uma reflexão sobre a ambição;

As plantas contidas em cada um destes jardins evidenciam os diferentes vínculos étnicos e culturais da população de Singapura.
À noite todo o espaço está artisticamente iluminado com realce para as 18 gigantescas árvores metálicas, denominadas “supertrees” que atingem 50 metros de altura e estão equipadas com painéis solares. Constituem autênticos jardins verticais em que as plantas trepadeiras, as orquídeas, os fetos e as várias flores tropicais vão colonizando toda a estrutura, caminhando da base para o topo.
Algumas espécies: Murraya koenigii (Rutaceae), Nelumbo nucifera – lótus (Nelumbonaceae), Bambusa sp. – bambu (Poaceae), Dimocarpus longan (Sapindaceae), Firmiana malayana (Malvaceae), Callerya reticulata (Asteraceae), Pistacia chinensis (Anacardiaceae), Livingstonia chinensis (Arecaceae), Hibiscus sinensis (Malvaceae).

Jardim Botânico de Singapura
Abrange uma superfície de 74 hectares sendo classificado património cultural pela UNESCO. Abre às 5 h da manhã e só encerra à meia-noite. É gratuito, com exceção da entrada no National Orchid Garden cujo ingresso é de 5 dólares, pagando os seniores e os jovens apenas 1 dólar de Singapura. Por falta de tempo não chegámos a entrar nesta parte do jardim que nos dizem possuir 3.200 espécies de orquídeas, sendo a maior parte híbridas. Por todo o lado encontramos a orquídea Vanda Miss Joaquim que é a flor nacional do estado de Singapura.
Este Jardim Botânico tem uma relevante importância histórica e científica. Foi lá que se iniciou o estudo para a propagação no sudeste asiático da árvore-da-borracha, a seringueira, Hevea brasiliensis, de onde advém hoje a maior produção mundial. Entretanto, prosseguem as aturadas pesquisas sobre a flora tropical de todo o planeta.


Para além do Jardim das Orquídeas, devemos referir outros espaços muito importantes como são o Jardim da Evolução, o Jardim dos Gengibres e o Vale das Palmeiras (Palm Valley). Existem três grandes lagos com plantas aquáticas, entre as quais, a espetacular vitória-régia (Victoria amazonica). Algumas árvores são majestosas e encontram-se classificadas. Há várias áreas de lazer, restaurantes e livrarias. Numa delas adquiri o magnífico livro “1001 Garden Plants in Singapore”, contendo as designações e as fotografias coloridas das várias espécies. Eis algumas usadas correntemente na rica culinária da região e não só (em parêntesis indica-se a família botânica):
Borassus flabellifer (Arecaceae)
Murraya koenigii (Ruteceae)
Moringa oleífera (Moringaceae)
Tamarindus indica (Fabaceae)
Bambu sp (Poaceae)
Nelumbo nucifera (Nelumbonaceae)
Ananas comosus (Bromeliaceae)
Musa (Musaceae)
Artocarpus altilis (Moraceae)
Cocos nocifera (Arecaceae)
Zingiber officinalis (Zingiberaceae)
Cymbopogon citratus (Poaceae)
Mangifera indica (Anacardiaceae)
Pandanus amaryllifolius (Pandanaceae)
Averrhoa carambola (Oxilidaceae)
Elaeis guineensis (Arecaceae)
Cinnamomum aromaticum (Lauraceae)
Syzygium aromaticum (Myrtaceae)
Theobroma cacao (Malvaceae)
Coffea arábica (Rubiaceae)
Myristica fragrans (Myristicaceae)
Piper nigrum (Piperaceae)

Gastronomia no paquete Constellation
Nos cruzeiros há fama de que se come muito bem. Este não fugiu à regra no tocante à alimentação permanentemente ao dispor dos passageiros. O “buffet” do 10º deck era um espanto. Havia sempre numerosos pratos de inspiração ocidental e asiática, saladas, refrescos, gelados, infusões e sobremesas com fartura. Foi pena que as frutas quase nunca fossem das regiões tropicais que estávamos a percorrer. No resto: cinco estrelas!
Para se ter uma ideia de como determinados cruzeiros são sofisticados, transcrevemos uma curiosa ementa patente a sala museu, destinada aos cães que viajavam com os respetivos donos no célebre paquete “Ile-de-France”, algures nos anos 60 do passado século:
Pour votre Toutou, Madame:
Por votre fidèle Compagnon Monsieur:
Le plat de Tayaut
La Régal de Swelkey
La Gâterie “France”
La Préférance du Danois
Le Régime Végétarien des Dogs
Biscuit Ken´t
Ainda bem que neste cruzeiro não permitiam a permanência de bichos, com todo o respeito pelos animais de companhia. Acrescente-se que os cuidados com a higiene eram uma constante. À entrada dos restaurantes havia sempre um tripulante munido de um líquido desinfetante para deitar nas mãos dos comensais.
Para os jantares ficou reservada, a pedido, a mesa nº 525 no luxuoso restaurante San Marco. O serviço era “à la Carte” mas tínhamos que ir trajados a preceito. Em cada dia havia uma ementa redigida em vários idiomas, inclusive em português, enunciando os pratos intemporais e os que variavam quotidianamente. A encimar a folha do menu, uma frase em itálico, introduzia um pouco de cultura gastronómica. Exemplos:
“A culinária não é química. É uma arte. Requer antes instinto e requinte que medidas exatas.” - Marcel Boulestin
“O maior poeta é o homem que nos traz o pão de cada dia; o padeiro mais próximo.” - Pablo Neruda
“Cozinhar é como o amor. Deve-se fazê-lo com paixão ou então não vale a pena” - Harriet Van Horne
“Diz-me o que comes, dir-te-ei quem és.” – Anthelme Brillat-Savarin
“Que chovam batatas do céu” – Shakespeare (Mas na época deste senhor, já se comeriam, na Europa, batatas com fartura?)
“Quem distingue o verdadeiro sabor da sua comida nunca poderá ser um glutão; quem não o distingue nunca poderá ser de outra forma.” – Henry David Thoreau.
E agora, para terminar, eis alguns pratos que, só pela sua enunciação, deveriam entusiasmar o meu amigo e eminente gastrónomo Virgílio Gomes e inspirá-lo no prosseguimento das suas maravilhosas crónicas:
- Sopa cremosa de cherovia com maçã, aipo e carne de porco;
- Soufflé de queijo azul duplamente cozinhado;
- Coulis de parmesão e marmelada de cebola vermelha;
- Ostras Rockefeller com parmesão gratinado, espinafres e molho holandês;
- Caracoletas à moda da Borgonha com chalotas, alho, salsa, manteiga aromatizada com Pernod;
- Pescada com crosta de amêndoas, pimentos, curgetes, beringelas, cenoura, caril;
- Cauda de lagosta grelhada com arroz pilaf, brócolos cozidos a vapor, manteiga clarificada;
- Rillettes de salmão cremosas com salada de pepino, alcaparras e caviar avruga;
- Bife do lombo grelhado à moda de Nova Iorque com manteiga à maître d’hotel, puré de batata e legumes da época;
Todas as iguarias (e não falo das sobremesas) eram esmeradamente servidas por um simpático “garçon” de nacionalidade peruana, o Rúben.
E acho que já chega! De notar que a tradução para português não é minha; os textos já lá se encontravam e porventura poderão dar azo a alguma controvérsia. Permitem, no entanto, que apercebemos a “finesse” e o requinte do serviço. Integrados num pequeno grupo dirigido por um “chef” brasileiro, visitámos as cozinhas onde era evidente o profissionalismo e a alta qualidade dos equipamentos e dos géneros alimentícios. Tivemos mesmo a grata oportunidade de assistir a demonstrações de cocktails, cozinha italiana e japonesa (sushis) e, é claro, de fazer provas.
Peço desculpa aos leitores mais afastados da botânica por enxamear no texto tantos nomes científicos em latim. O fito foi estimular curiosidades e arregimentar adeptos para a observação e o estudo de uma ramo da ciência de contornos misteriosos e infindáveis e, talvez por isso mesmo, de sobremaneira atraentes.

Fevereiro/2017
Miguel Boieiro

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